JANUS E A ESPADA DE MURAI
outubro 14, 2012 at 4:29 am 3 comentários
Oi, pessoal,
Depois de um tempinho sem atualizar este blog, posto dois textos. Não são exatamente novos:
Há duas comunidades no Orkut com meu nome, feita por leitores. Como acontece atualmente com muitas comunidades no Orkut, faz tempo que não tem muito movimento lá.
Periodicamente, envio textos para lá e eles ficam disponíveis, de forma exclusiva, naquela comunidade por alguns meses.
Boa leitura
Beijos
Rita
JANUS
Por Rita Maria Felix da Silva
Janus encontrou-a nas ruínas. Uma gravura belíssima. Abaixo dela estava escrito: “a felicidade é uma gota de orvalho numa pétala de flor”1.
Ficou em silêncio. O coração confuso. Nunca vira nada como aquele desenho… E os símbolos… Nem mesmo os anciões conseguiriam entender o significado. Talvez fosse como nas lendas do tempo antigo-morto, quando pessoas viviam em casas altas como o céu, tinha máquinas voadoras e sabiam fazer coisas-bonitas-esquecidas com nomes estranho como “música” e “pintura”…
Mas olhou para o crânio do inimigo que acabara de esmagar com sua clava de pedra. Quem sabe um dia realmente tivera existido um tempo assim glorioso e belo. Agora, contudo, havia apenas tribos em guerra feroz, até que ninguém mais restasse.
Deixou o quadro cair ao solo pedregoso. Virou-se retornando à batalha. Tinha mais inimigos para matar.
FIM
Dedicado a Vera do Val
A ESPADA DE MURAI
Por Rita Maria Felix da Silva
Orisberto estava sozinho na cela. Lia com tristeza o jornal deixado pelo carcereiro. As manchetes o chamavam de monstro. A palavra arrancava-lhe lágrimas dos olhos.
Às 14:00 h, o advogado chegou. Dr. Djalma Cordeiro, vindo da capital. Apresentou-se rapidamente, sentou e disse:
— Bem, numa crise de consciência, ou sei lá o que, você se entregou à polícia, o que é bom, vai acabar ajudando no julgamento, mas antes disso havia matado 52 pessoas usando uma… Como é que chamam mesmo… Uma katana, não é? Uma espada samurai. Me diga por que fez isso?
No rosto de Orisberto, a dor e a culpa disputavam-lhe ferozmente a alma .
— Não fui eu. Foi a espada. — ele respondeu — Coleciono artefatos antigos. Encontrei-a numa escavação na ilha japonesa de Hokkaido. As lendas contam que teria pertencido a Murai, o verdadeiro nome é desconhecido. Um samurai da província de Hizen, que enlouqueceu após ter perdido tudo que amava numa disputa com o shogunato. Ele tornou-se um ronin, um renegado, mas, diferente dos outros, não matava por honra ou dinheiro. Apenas pelo prazer de matar. Um guerreiro incomparável. Dizem que chacinou centenas de pessoas, até ser abatido, numa emboscada, por tropas do Shogun. Mas contam que seu espírito nunca deixou este mundo: ficou na espada e, se alguém, cuja alma, de algum modo, tiver afinidade com a daquele ronin, quando a empunhasse teria todo o poder e fúria assassina de Murai. E eu… Eu…
Djalma Cordeiro interveio:
— Que história! Garanto que vai ser fácil declarar insanidade. Acredite, é o melhor para você.
Orisberto Mendes Cavalheiro terminou seus dias num hospício, onde veio a cometer suicídio.
A espada de Murai foi guardada pela Justiça. Um juiz, mais supersticioso que seus pares, deu ordens extremas para que aquela arma fosse mantida longe do alcance de todos.
Contudo, a espada aprendera a ser paciente. Aguardava sem preocupação. Cedo ou tarde, um novo portador iria empunhá-la e então a matança, a doce matança, que tanto amava, recomeçaria.
FIM
Dedicado a Tutankhamen
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1 A frase vem da música “A Felicidade”, de Tom Jobim.
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1. Gabriel Boz | novembro 2, 2012 às 4:26 pm
Muito legal a mini sagas Janus. Fiquei imaginando um futuro pós apocaliptico com tribos primitivas, encontrando a galeria soterrada do Louvre com a Mona Lisa jogada no chão…Um abraço!
2. Gi | junho 15, 2013 às 8:48 pm
Como você encontrou esse nome???
3. Rita Maria Felix da Silva | junho 15, 2013 às 11:50 pm
Você se refere a “Janus” ou a “Murai”?