Um Melancólico Coaxar
fevereiro 12, 2011 at 4:13 am 15 comentários
Oi, pessoal,
Esse meu texto não é novo, mas, me parece, ainda é pouquíssimo conhecido dos leitores. Boa leitura.
Beijos
Rita
Um Melancólico Coaxar
Por Rita Maria Felix da Silva
Genésio Rodopio crescera fascinado por magia, como, porém, ensinaram-lhe que esta não existia, contentou-se em ser, apenas, mágico.
Por um tempo, os truques de salão, as técnicas de ilusionismo e os aplausos de um público que apreciava ser enganado serviram para animá-lo, mas, dez anos naquele ofício enfastiaram-lhe a alma. Ansiava por magia, como nos livros e desenhos animados, como nos quadrinhos e filmes: vibrante e miraculosa; impossível e explosiva.
Dedicou-se, então, a estudar Ocultismo. Naquelas páginas e segredos, nos rituais, cerimônias e tomos antigos, buscava reencontrar a magia, que já habitara o mundo em alguma época e, assim pensava, ele poderia trazê-la de volta.
Seu espírito, todavia, descobriu somente frustração e recorrentes dores de cabeça que os médicos não souberam explicar. Afundou-se em remédios e bebidas e começou a errar os truques na hora do espetáculo.
Até que uma vez foi pior que todas. Confundiu-se ridiculamente e a platéia gargalhou tanto que lhe feriu a honra e a alma. A dor de cabeça voltou mais forte que nunca e algo estourou lá dentro. Dizem que vacilou, tremeu, balbuciando como se procurasse uma palavra, e então gritou algo terrível e antigo, do tipo que não deveria mais ser ouvido neste planeta…
Mais tarde, quando a polícia chegou para investigar acontecimento tão bizarro, encontrou apenas estátuas de uma perfeição artística invejável, conforme afirmaram os jornais da época, sentadas onde deveria estar a platéia daquele teatro. No palco, aninhado entre as roupas que pertenceram ao mágico Genésio Rodopio, podia-se ver um sapo de pele azulada, do tamanho de um punho humano fechado, de cujos olhos, assim ainda contam, saltava a maior tristeza imaginável e que coaxava melancolicamente.
FIM
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1. Haziel | fevereiro 12, 2011 às 9:36 am
Nossa, esse é bem interessante e “melancólico” mesmo. Parabéns!
2. Alex | fevereiro 13, 2011 às 2:47 am
É uma situação tristemente cômica. Pois o homem que desejou tanto conhecer a magia conseguiu apenas executá-la verdadeiramente, ainda que contrário a sua vontade. O que era seu desejo virou sua maldição. Uma boa analogia de uma vida que cobiça algo proibido e que não pode sustentar.
Ótimo texto.
Parabéns.
3. Alex Bastos | fevereiro 14, 2011 às 2:50 am
Belo texto, suas tramas sempre funcionam bem, seja em contos curtos ou longos.
4. osmar | fevereiro 14, 2011 às 1:20 pm
Ritinha… adorei o “riteando”! E faz um tempão que não te faço uma visita, não é mesmo? Olhe, achei incrível a tal frustração de Genésio com relação a magia, pois, de mágica, ele já estava enfastiado, e entre a primeira e a segunda proposições há uma diferença brutal, não é mesmo?
E nosso personagem teve um final lástimavel e, ao mesmo tempo, feliz, haja visto que ele inundou sua alma de tanto aprendizado e tantas iniciações que acabou “abracadabrando” um paradoxo medonho entre sua gana interior de criar e o produto final da magia em sua criação… como sapo, não se preocuparia mais com tantos questionamentos, viveria e morreria feliz à beira da lagoa da vida! 1 beijo, Ritinha,
the ^..^ Osmar
5. maya blannco | fevereiro 15, 2011 às 1:03 am
Oi, Rita!
Gostei muito. Seus textos são maravilhosos. Virei fã. Bjos.
6. Heitor | fevereiro 19, 2011 às 1:17 am
Infelizmente, o ser humano não está preparado para aquilo que não conhece. Deve se tomar cuidado com o que deseja. Nem sempre as coisas saem conforme o desejado. O destino é cruel.
Pois bem, eu li essas e muitas outras lições nesse seu texto. Admiro muito a capacidade que você tem de sintetizar universos inteiros em poucos parágrafos. Realmente impressionante, minha amiga.
Meus parabéns pelo texto.
Beijos
7. PodEspecular | fevereiro 19, 2011 às 6:36 pm
Hahahaha, um miniconto melancolicamente engraçado!
E como tem o tempo adequado e a simplicidade no ponto certo, gostaria muito de transformá-lo num podfiction.
Você me autoriza, Rita?
Mais uma vez, parabéns pelo texto delicioso! 🙂
Abração,
Paulo Elache (host do PodEspecular Podcast)
http://www.podespecular.com.br
8. Kate | fevereiro 19, 2011 às 7:58 pm
Esse eu já tinha lido, se não me engano, no RPG-X… e sou completamente apaixonada por esse texto ^^
Fantástico!
9. Edgley Félix | fevereiro 20, 2011 às 11:37 am
Você é simplesmente genial, adorei seu texto, perfeito. Parabéns !
10. Berje | fevereiro 22, 2011 às 2:56 am
Gosto da simplicidade e inocência, mesmo tratando de algo amargo como o sofrimento do personagem e a obscuridão do ocultismo.
11. Fernanda Luongo | fevereiro 23, 2011 às 4:54 am
Cuidado com o que desejas….
12. Sabyne Le Fay | fevereiro 24, 2011 às 2:46 am
Tão Lindo,parece real ,Amei o texto^^
Parabens pelo seu talento^^
tudo de bom^^
13. Alex | fevereiro 25, 2011 às 3:30 am
Fico admirado pela forma que Rita comprime uma dimensão inteira em poucas linhas. As poucas palavras dão toda a explicação da situação e o leitor não fica perdido de modo algum.
Te dou meus parabéns, pois eu sei que fazer isso é muito dificil. (experiência própria)
Grande abraço!
14. Sérgio Filho | fevereiro 25, 2011 às 4:47 am
Gostei muitíssimo de ler. O que é triste, não é feio, tem sua beleza peculiar.
Aquele abraço!
15. Tutankhamen | março 6, 2011 às 8:39 pm
Excelente Rita, Parabéns ^^